Em minha jornada de pesquisa para o livro “A Segunda Onda – o homem por trás da lenda”, deparei-me com inúmeros documentos, fotos e relatos sobre o Eterno Grande Mestre Haeng Ung Lee. Conhecemos a lenda: o fundador da ATA, o homem que levou o Taekwondo a um patamar global de organização e profissionalismo. Conhecemos o visionário.
Mas são os relatos íntimos, crus e por vezes dolorosos, que verdadeiramente definem o “homem por trás da lenda”. Recentemente, tive acesso a uma série de depoimentos de sua viúva, a Sun C. Lee, que descortinam o ser humano por trás do mito. E é nesse espaço – entre o ícone e o homem – que a verdadeira história, aquela que busco contextualizar em “A Segunda Onda”, realmente reside.
A Sra. Lee descreve o escritório preservado do Eternal Grand Master. E um detalhe me captura de imediato: a cadeira de escritório, que era marrom, foi pintada de preto por ele mesmo, com um marcador permanente, para não ter que comprar uma nova.
Este pequeno ato de frugalidade é uma metáfora perfeita.
O “Impossível” como Ponto de Partida
Todos que praticam e estudam o Songahm Taekwondo, cresce ouvindo o lema: “Hoje não é possível, amanhã é possível”. Frequentemente, vemos isso como um slogan motivacional. Os relatos da Sra. Lee, no entanto, transformam o slogan em biografia.
Ela relembra o homem que chegou aos EUA em 1962, olhou pela janela do avião para a vastidão de luzes e se sentiu “completamente sozinho, pequeno”. O homem que, ao tentar abrir sua primeira escola, foi sumariamente deportado em 1963.
Em meu livro, faço um mergulho profundo nesse “recorte histórico” que é frequentemente esquecido. O que acontece quando o herói falha no primeiro ato? Haeng Ung Lee retorna à Coreia e, para sobreviver, passa a criar coelhos Angorá.
Pense nisso. O futuro líder de uma organização mundial, o “Imperador do Taekwondo”, foi reduzido à falência e ao ostracismo. Ele não desistiu. Ele continuou treinando. A lenda não nasceu pronta; ela foi forjada na humilhação, na deportação e, sim, em coelhos.
A Coragem de Romper
Outro ponto que a Sra. Lee ilumina, e que é um pilar em “A Segunda Onda”, é a ruptura de 1977. O EGM fundou a ATA em 1969 com outros mestres coreanos. Mas, como ela relata, “cada um queria ser o ‘cabeça'”. A filosofia deles divergia da dele. A ruptura não foi um fracasso de negócios; foi um ato de coragem filosófica. Ele se separou porque, para os outros, o foco era o dinheiro; para ele, “meus alunos são mais valiosos que dinheiro”.
Ele pegou sua visão e foi para o Arkansas. Sozinho. É nesse momento que o “homem por trás da lenda” toma a decisão que define todo o futuro. Ele escolhe o propósito em vez do lucro fácil. Ele escolhe o longo e árduo caminho da integridade.
Contextualizar com o mundo real é a alma do meu livro. Não podemos entender a trajetória de H.U. Lee sem entender o mundo em que ele vivia. A Sra. Lee fala abertamente sobre o racismo e a discriminação que enfrentaram no Arkansas. Eles não conseguiam nem reservar hotéis para os eventos da ATA.
A lenda nos diz que ele construiu um império. A realidade, contada por ela, é que ele teve que lutar por cada centímetro de respeito.
O momento em que ele confronta o então governador Bill Clinton, ameaçando levar os negócios da ATA para outro estado, não é uma história de Taekwondo; é uma história de direitos civis. É a história de um imigrante coreano que usou sua organização não apenas para ensinar chutes, mas para exigir dignidade. Ele usou seu poder econômico como uma arma contra a discriminação sistêmica.
O Sacrifício por Trás do Trono
Mas a revelação mais pungente da Sra. Lee é, sem dúvida, o custo pessoal dessa visão. Ela é franca: “Na família… honestamente, ele foi negligente.”
Ela recorda o filho mais novo, que dizia: “Papai está sempre viajando. Papai não olha para mim, ele só olha para as outras crianças do mundo.” Este é o paradoxo trágico do “homem por trás da lenda”. Para construir uma família global de centenas de milhares de praticantes, o homem maior que seu nome, Haeng Ung Lee sacrificou a sua própria.
Seu filho só compreendeu a magnitude do foco do pai anos após sua morte. É uma verdade difícil, que humaniza o ícone de forma quase brutal. Ele não era um deus no topo da montanha. Ele era um homem fazendo escolhas impossíveis, carregando um fardo que o quebrou por dentro – como o câncer terminal que ele insistia em dizer que “não era nada” – enquanto construía um legado para todos nós.
O homem que pintava a própria cadeira para economizar dinheiro é o mesmo homem que foi deportado, o mesmo homem que enfrentou o racismo, e o mesmo homem cujo filho sentia sua falta.
É essa complexidade, essa “Segunda Onda” de compreensão, que explorei em meu livro. A trajetória de Haeng Ung Lee não é emblemática apenas pela sua vitória, mas pelo preço que ele pagou por ela.
O livro será lançado em 2026, em homenagem aos 90 anos de vida de Haeng Ung Lee. Um registro histórico e uma demonstração de carinho e gratidão à ele e a tudo que ele buscou ensinar.
_________________________________
In my research journey for the book “The Second Wave – the man behind the legend,” I came across countless documents, photos, and accounts about the Eternal Grand Master Haeng Ung Lee. We know the legend: the founder of the ATA, the man who took Taekwondo to a global level of organization and professionalism. We know the visionary.
But it is the intimate, raw, and at times painful accounts that truly define the “man behind the legend.” I recently gained access to a series of testimonials from his widow, Sun C. Lee, which unveil the human being behind the myth. And it is in this space—between the icon and the man—that the true story, the one I seek to contextualize in “The Second Wave,” truly resides.
Mrs. Lee describes the Eternal Grand Master’s preserved office. And one detail captures me immediately: the office chair, which was brown, was painted black by the man himself, with a permanent marker, so he wouldn’t have to buy a new one.
This small act of frugality is a perfect metaphor.
The “Impossible” as a Starting Point
Everyone who practices and studies Songahm Taekwondo grows up hearing the motto: “Today not possible, tomorrow possible.” We often see this as a motivational slogan. Mrs. Lee’s accounts, however, transform the slogan into a biography.
She recalls the man who arrived in the U.S. in 1962, looked out the airplane window at the vastness of lights, and felt “completely alone, small.” The man who, upon trying to open his first school, was summarily deported in 1963.
In my book, I take a deep dive into this “historical segment” that is often forgotten. What happens when the hero fails in the first act? Haeng Ung Lee returns to Korea and, to survive, begins raising Angora rabbits.
Think about it. The future leader of a global organization, the “Emperor of Taekwondo,” was reduced to bankruptcy and ostracism. He did not give up. He continued training. The legend was not born ready; it was forged in humiliation, deportation, and yes, in rabbits.
The Courage to Break Away
Another point that Mrs. Lee illuminates, and which is a pillar in “The Second Wave,” is the 1977 split. The EGM founded the ATA in 1969 with other Korean masters. But, as she recounts, “each one wanted to be the ‘head’.” Their philosophy diverged from his. The split was not a business failure; it was an act of philosophical courage. He separated because, for the others, the focus was money; for him, “my students are more valuable than money.”
He took his vision and went to Arkansas. Alone. It is at this moment that the “man behind the legend” makes the decision that defines the entire future. He chooses purpose over easy profit. He chooses the long and arduous path of integrity.
Contextualizing with the real world is the soul of my book. We cannot understand H.U. Lee’s journey without understanding the world he lived in. Mrs. Lee speaks openly about the racism and discrimination they faced in Arkansas. They couldn’t even book hotels for ATA events.
The legend tells us he built an empire. The reality, as told by her, is that he had to fight for every inch of respect.
The moment he confronts the-then governor Bill Clinton, threatening to take the ATA’s business to another state, is not a Taekwondo story; it is a civil rights story. It is the story of a Korean immigrant who used his organization not only to teach kicks but to demand dignity. He used his economic power as a weapon against systemic discrimination.
The Sacrifice Behind the Throne
But Mrs. Lee’s most poignant revelation is, without a doubt, the personal cost of this vision. She is frank: “In the family… honestly, he was negligent.”
She recalls her youngest son, who used to say: “Dad is always traveling. Dad doesn’t look at me, he only looks at the other children of the world.” This is the tragic paradox of the “man behind the legend.” To build a global family of hundreds of thousands of practitioners, the man who was greater than his name, Haeng Ung Lee, sacrificed his own.
His son only understood the magnitude of his father’s focus years after his death. It is a difficult truth, one that humanizes the icon in an almost brutal way. He was not a god on a mountaintop. He was a man making impossible choices, carrying a burden that broke him from the inside—like the terminal cancer he insisted was “nothing”—while building a legacy for us all.
The man who painted his own chair to save money is the same man who was deported, the same man who faced racism, and the same man whose son missed him.
It is this complexity, this “Second Wave” of understanding, that I have explored in my book. The trajectory of Haeng Ung Lee is emblematic not only for his victory, but for the price he paid for it.
The book will be released in 2026, in honor of the 90th anniversary of Haeng Ung Lee’s birth. A historical record and a demonstration of affection and gratitude to him and to all he sought to teach.
_________________________________________
En mi viaje de investigación para el libro “La Segunda Ola – el hombre detrás de la leyenda”, me encontré con innumerables documentos, fotos y relatos sobre el Eterno Gran Maestro Haeng Ung Lee. Conocemos la leyenda: el fundador de la ATA, el hombre que llevó el Taekwondo a un nivel global de organización y profesionalismo. Conocemos al visionario.
Pero son los relatos íntimos, crudos y a veces dolorosos, los que verdaderamente definen al “hombre detrás de la leyenda”. Recientemente, tuve acceso a una serie de testimonios de su viuda, Sun C. Lee, que revelan al ser humano detrás del mito. Y es en ese espacio —entre el ícono y el hombre— donde la verdadera historia, aquella que busco contextualizar en “La Segunda Ola”, realmente reside.
La Sra. Lee describe la oficina preservada del Eternal Grand Master. Y un detalle me captura de inmediato: la silla de oficina, que era de color marrón, fue pintada de negro por él mismo, con un marcador permanente, para no tener que comprar una nueva.
Este pequeño acto de frugalidad es una metáfora perfecta.
Lo “Imposible” como Punto de Partida
Todos los que practican y estudian el Songahm Taekwondo crecen escuchando el lema: “Hoy no es posible, mañana es posible”. Frecuentemente, vemos esto como un eslogan motivacional. Los relatos de la Sra. Lee, sin embargo, transforman el eslogan en biografía.
Ella recuerda al hombre que llegó a EE. UU. en 1962, miró por la ventana del avión la inmensidad de las luces y se sintió “completamente solo, pequeño”. El hombre que, al intentar abrir su primera escuela, fue sumariamente deportado en 1963.
En mi libro, hago una inmersión profunda en ese “recorte histórico” que a menudo se olvida. ¿Qué sucede cuando el héroe fracasa en el primer acto? Haeng Ung Lee regresa a Corea y, para sobrevivir, se dedica a criar conejos de Angora.
Piénsenlo. El futuro líder de una organización mundial, el “Emperador del Taekwondo”, fue reducido a la bancarrota y al ostracismo. Él no desistió. Continuó entrenando. La leyenda no nació hecha; fue forjada en la humillación, en la deportación y, sí, en conejos.
La Valentía de Romper
Otro punto que la Sra. Lee ilumina, y que es un pilar en “La Segunda Ola”, es la ruptura de 1977. El EGM fundó la ATA en 1969 con otros maestros coreanos. Pero, como ella relata, “cada uno quería ser la ‘cabeza'”. La filosofía de ellos difería de la de él. La ruptura no fue un fracaso de negocios; fue un acto de valentía filosófica. Se separó porque, para los otros, el foco era el dinero; para él, “mis alumnos son más valiosos que el dinero”.
Tomó su visión y se fue a Arkansas. Solo. Es en ese momento que el “hombre detrás de la leyenda” toma la decisión que define todo el futuro. Elige el propósito por encima de la ganancia fácil. Elige el largo y arduo camino de la integridad.
Contextualizar con el mundo real es el alma de mi libro. No podemos entender la trayectoria de H.U. Lee sin entender el mundo en el que vivía. La Sra. Lee habla abiertamente sobre el racismo y la discriminación que enfrentaron en Arkansas. Ni siquiera podían reservar hoteles para los eventos de la ATA.
La leyenda nos dice que construyó un imperio. La realidad, contada por ella, es que tuvo que luchar por cada centímetro de respeto.
El momento en que confronta al entonces gobernador Bill Clinton, amenazando con llevar los negocios de la ATA a otro estado, no es una historia de Taekwondo; es una historia de derechos civiles. Es la historia de un inmigrante coreano que usó su organización no solo para enseñar patadas, sino para exigir dignidad. Usó su poder económico como un arma contra la discriminación sistémica.
El Sacrificio Detrás del Trono
Pero la revelación más conmovedora de la Sra. Lee es, sin duda, el costo personal de esta visión. Ella es franca: “En la familia… honestamente, fue negligente”.
Ella recuerda a su hijo menor, que decía: “Papá siempre está viajando. Papá no me mira a mí, solo mira a los otros niños del mundo”. Esta es la trágica paradoja del “hombre detrás de la leyenda”. Para construir una familia global de cientos de miles de practicantes, el hombre que fue más grande que su nombre, Haeng Ung Lee, sacrificó la suya propia.
Su hijo solo comprendió la magnitud del enfoque de su padre años después de su muerte. Es una verdad difícil, que humaniza al ícono de forma casi brutal. No era un dios en la cima de una montaña. Era un hombre tomando decisiones imposibles, cargando un peso que lo quebró por dentro —como el cáncer terminal que insistía en decir que “no era nada”— mientras construía un legado para todos nosotros.
El hombre que pintaba su propia silla para ahorrar dinero es el mismo hombre que fue deportado, el mismo hombre que enfrentó el racismo, y el mismo hombre que su hijo extrañaba.
Es esta complejidad, esta “Segunda Ola” de comprensión, la que he explorado en mi libro. La trayectoria de Haeng Ung Lee no es emblemática solo por su victoria, sino por el precio que pagó por ella.
El libro se lanzará en 2026, en homenaje a los 90 años de vida de Haeng Ung Lee. Un registro histórico y una demostración de cariño y gratitud hacia él y todo lo que buscó enseñar.

Do começo ao fim, mergulhei na vida de EGM. A forma como a história foi contada, quase como se eu estivesse diante do autor, me emocionou com detalhes que eu desconhecia, me aproximando um pouco mais das raízes da nossa amada rocha e pinheiro… obrigada, Sr. Recchia. Aguardo ansiosamente o lançamento do livro.