Eu não sabia exatamente o que esperar quando a tela acendeu.
As entrevistas que fiz ao longo da vida, fossem com presidentes, ministros, sobreviventes ou atletas, sempre me ensinaram que algumas figuras chegam primeiro com o silêncio. E quando o rosto de William Clark surgiu, com aquele corte de cabelo quase militar, os olhos claros de quem viu mais do que gostaria e o ar de quem carrega histórias que ninguém mais consegue suportar, percebi que estava diante de uma dessas figuras. Uma figura que, por reiteradas vezes, eu havia lido e visto nos meus manuais de treinamento.
“Hello, sir”, ele disse. E eu ouvi ali, nessa saudação simples, cinquenta anos de história retida na garganta.
Não era apenas uma entrevista.
Era um portal.
Cumprimentei-o com respeito, mas por dentro sentia algo que raramente sinto: o peso de estar diante da história enquanto ela se oferece, voluntária, talvez pela última vez. Não como relato oficial, mas como memória viva, prestes a desaparecer se não for recolhida com cuidado.
Ele sorriu, tímido.
Pedi desculpas pelo meu inglês, e ele me acolheu com uma gentileza inesperada, dizendo que o português dele era pior que o meu inglês. Respirei fundo e deixei que ele começasse no seu próprio tempo, porque certos testemunhos não admitem pressa.
Foi então que ele disse:
— Entrei na Midwest Karate Federation em dezembro de 1968. Foi ali que tudo começou.
E, naquele instante, eu soube: dezembro de 1968 seria mais um ponto fixo do meu livro. O marco zero de uma trajetória específica que eu tentava reconstruir e que ainda estava em aberto na pesquisa.
Clark descreveu o lugar como quem revisita a casa onde cresceu: paredes simples, cheiro de tatame gasto, os comandos fortes de Master Richard Reed ecoando pelo salão. E então, dois meses depois, em fevereiro de 1969, veio o exame que o colocaria frente a frente com o homem que mudaria sua vida: Haeng Ung Lee.
Enquanto ele narrava, eu via a cena pela minha própria mente: a mesa comprida, os mestres coreanos alinhados, Reed anunciando os exames, e no centro, quase imóvel, o pequeno coreano de olhar cortante. Clark confessou que pensou que ele era pequeno demais para inspirar tanta reverência.
— Perto de nós, americanos, éramos gigantes diante dele — lembra.
Sorri ao ouvir isso. Quantas vezes, ao longo da minha pesquisa, me deparei com essa mesma impressão? Um homem pequeno, alterando o curso do mundo.
Quando Clark me contou que fora promovido da faixa branca à marrom e que, poucos dias depois, H. U. Lee apareceu pessoalmente na escola para explicar a decisão, senti o peito esvaziar. Era como assistir a um filme antigo cuja única cópia estava se desfazendo, e eu precisava salvar cada fotograma. Meu cérebro saltou imediatamente para minhas anotações sobre o antigo sistema da Chung Do Kwan: faixas brancas, marrons e pretas, sem fases intermediárias. Assim Lee aprendera no início da década de 1950, e assim repassava, no outro lado do mundo, quase vinte anos depois.
Clark continuou, e eu quase esquecia de respirar.
Ele me contou da lição da vingança, aquela história em que, ao levar um chute semicircular na cabeça e revidar com a impulsividade de um boxeador, ouviu do mestre:
“Quando quiser se vingar, não faça na hora. Espere duas semanas.”
Escutei aquilo como quem escuta uma sentença filosófica.
E talvez fosse. Talvez fosse a síntese de toda uma compreensão oriental do tempo, da raiva e do corpo.
Eu, jornalista, educador, mestre de taekwondo, estudioso das humanidades, percebia que naquele diálogo havia mais que um ensinamento marcial. Havia uma chave. Uma forma de ver o mundo.
E então chegamos ao momento que mais esperei. A pergunta que carregava comigo desde antes de iniciar a entrevista.
— Como nasceram as formas Songahm?
Clark sorriu como quem revê um velho amigo.
Ele contou dos cinco anos de trabalho com Master Allemeier, das listas intermináveis de técnicas escritas em quadros enormes, do perfeccionismo de H. U. Lee corrigindo duas ou três coisas a cada forma, e do momento em que souberam, não por revelação divina, mas pelo corpo cansado, pelo suor acumulado, que estavam construindo algo que mudaria o destino não só da ATA, mas do taekwondo ocidental.
Enquanto falava, eu lembrava das memórias que o Grand Master Mal Kun Lee compartilhou comigo: o acampamento de julho de 1983, gongos tocando às cinco da manhã na montanha, velas acesas, mestres assinando o pergaminho da primeira apresentação formal das formas Songahm. E senti o privilégio raro de ter duas fontes, duas narrativas que se encaixavam como partes de um mesmo mapa.
A complexidade desta pesquisa alcança efeitos literários e históricos muito maiores do que eu poderia imaginar quando comecei.
Respiro fundo antes de me concentrar para escrever sobre episódios que não estão em manual algum. A maioria das coisas deste livro jamais foi contada com nexo causal. Estou transformando lendas em fatos, idolatria em racionalidade. Dando luz à história — e, com isso, caminhando para a eternidade.
Lembro a história dos dois irmãos Lee, os mais graduados, Haeng Ung e Soon Ho, vendendo um peixe apodrecido. Eu já imaginava algo assim ao compreender o contexto histórico das Coreias. Mas lê-la na voz de Soon Ho era diferente. Era um lembrete de que nenhum império nasce do luxo; nasce da fome, da perda, da vontade de sobreviver.
A vida e a forma como ela nos é imposta são o verdadeiro gatilho do que seremos depois. A família — e, em especial, Haeng Ung — me prova isso a cada episódio. Outra história que conheci pelo Grand Master Mal Kun é a da calça vermelha que lhe foi presenteada. Um gesto raríssimo para a época. Primeiro porque, sendo o mais novo, suas roupas eram sempre heranças dos irmãos. Segundo porque quem a deu foi Haeng Ung. Um gesto claro, quase estranho, de “eu me importo”, algo novo para o pequeno Mal Kun, com sete ou oito anos. Anos depois, ele entendeu que aquela calça era um símbolo. Talvez o primeiro símbolo do desprendimento cultural que moldaria o Songahm.
Esta pesquisa me leva a um espetáculo de teletransporte. Um dia estou em Seul, de repente no Arkansas, um salto para a Flórida e, então, sigo para o Paraguai.
Cezar Ozuna me contou — e documentei — a aposta feita com Haeng Ung: a promessa dos duzentos alunos. E como tudo aconteceu de maneira ligeiramente despretensiosa.
E ao final, Clark me confirma o mesmo modus operandi. As pessoas faziam porque era com Lee; Lee fazia porque tinha que ser feito. O Eternal Grand Master H. U. Lee, nos bastidores, entre amigos, longe do palco, ia se construindo. Clark me falou do homem que ria, que pregava peças, que gostava de pressionar seus instrutores apenas para vê-los ultrapassar limites que nem imaginavam ter.
Eu, por dentro, entendia: estava juntando fragmentos.
Construindo a ossatura do meu livro.
Costurando datas, memórias, impressões, silêncios.
E quando Clark falou sobre a última frase que ouviu de H. U. Lee — “Proteja os seniors” — senti um nó no peito. Não porque eu conhecesse aqueles homens, mas porque, pela primeira vez, sentia que conhecia o coração de onde tudo nasceu.
Desliguei a chamada quando já era noite.
A tela ficou preta, mas algo em mim permaneceu aceso.
Eu sabia, naquele instante, que meu livro — ainda não publicado, ainda nebuloso — já existia de alguma forma.
Porque existia em mim. Porque estava sendo construído na fronteira entre o que é memória e o que é história, entre o que me contam e o que eu descubro, entre o silêncio e a luz.
E enquanto organizo notas, datas, depoimentos e documentos, uma verdade se confirma: há histórias que não me escolheram por acaso. E a de Haeng Ung Lee é uma delas.
Sou apenas o narrador que recolhe a primeira luz antes que ela se apague. E isso precisa ser contado. Talvez meu corpo jamais me permita ser campeão de novo, dar uma aula emocionante outra vez. É possível que essa fase tenha ficado para trás. Mas eu tenho minha memória e meus escritos. Talvez Lee esteja me olhando de algum lugar e dizendo: apenas continue.
############
The Men Who Were There
by Arnaldo Recchia
“Hello, sir,” he said. And in that simple greeting, I heard fifty years of history pressed into a single breath.
I greeted him respectfully, but inside I felt something I rarely feel: the weight of standing before history as it offers itself, willingly, perhaps for the last time. Not as an official account, but as living memory—memory on the verge of vanishing if not gathered with care.
And in that instant, I knew: December 1968 would be another fixed point in my book. The ground zero of a trajectory I was trying to reconstruct, still open in my research.
Clark described the place as someone revisiting the house where he grew up: simple walls, the smell of worn-out mats, Master Richard Reed’s strong commands echoing through the room. And then, two months later, in February 1969, came the test that would place him face to face with the man who would change his life: Haeng Ung Lee.
As he narrated, the scene unfolded in my mind: the long table, the Korean masters lined up, Reed making the exam announcements, and at the center, almost motionless, the small Korean man with the sharp gaze. Clark admitted he thought Lee was too small to inspire such reverence.
— Next to us Americans, we were giants compared to him — he recalls.
When Clark told me he had been promoted from white belt to brown, and that just a few days later H. U. Lee appeared at the school to explain the decision in person, I felt my chest hollow out. It was like watching an old film whose only surviving copy was decaying, and I had to save every frame. My mind leapt immediately to my notes on the early Chung Do Kwan system: white, brown, and black belts with no intermediate stages. That was how Lee himself had learned in the early 1950s—and how he was teaching it again, on the other side of the world, nearly twenty years later.
Clark continued speaking, and I almost forgot to breathe.
He told me the story of the lesson on revenge, the one where, after taking a roundhouse kick to the head and retaliating with a boxer’s impulsiveness, he heard the master say:
I—journalist, educator, taekwondo master, student of the humanities—could see that there was more in that exchange than a martial teaching. There was a key. A way of seeing the world.
— How did the Songahm forms come to be?
Clark smiled like someone greeting an old friend.
He spoke of the five years working with Master Allemeier, of the endless lists of techniques written on huge boards, of H. U. Lee’s perfectionism as he corrected two or three details in each form, and of the moment when they realized—not by divine revelation, but through tired bodies and accumulated sweat—that they were building something that would change the fate not only of the ATA, but of Western taekwondo itself.
As he spoke, I remembered the memories shared with me by Grand Master Mal Kun Lee: the July 1983 camp, gongs ringing at five in the morning on the mountain, candles lit, masters signing the parchment of the first formal presentation of the Songahm forms. And I felt the rare privilege of having two sources, two narratives fitting together like pieces of the same map.
The complexity of this research has taken on literary and historical dimensions far greater than anything I imagined at the beginning.
I breathe deeply before writing about episodes absent from any manual. Most of the things in this book were never told with causal coherence. I am turning legends into facts, idolization into rationality. Bringing light to history—and in doing so, walking toward eternity.
I recall the story of the two Lee brothers, the highest-ranked, Haeng Ung and Soon Ho, selling a rotting fish. I had imagined something of the sort after understanding the historical context of the Koreas. But reading it in Soon Ho’s own words was different. It was a reminder that no empire is born out of luxury; it is born out of hunger, loss, and the will to survive.
Life, and the way it imposes itself upon us, is the true trigger of who we become. The family—and especially Haeng Ung—proves this to me at every turn. Another story I heard from Grand Master Mal Kun was about the red pants he received as a gift. A rare gesture at the time. First because, as the youngest, his clothes were always hand-me-downs. Second because they were given by Haeng Ung. A clear, almost strange gesture of “I care”—something new for young Mal Kun, seven or eight years old. Years later, he understood that those pants were a symbol. Perhaps the first symbol of the cultural shedding that would shape Songahm.
This research pulls me through a kind of teleportation spectacle. One day I am in Seoul, suddenly in Arkansas, a quick jump to Florida, and then the journey leads me to Paraguay.
Cezar Ozuna told me—and I documented—the bet made with Haeng Ung: the promise of two hundred students. And how everything unfolded in a slightly unplanned, almost casual way.
And in the end, Clark confirmed the same modus operandi. People did things because it was for Lee; Lee did things because they needed to be done. The Eternal Grand Master H. U. Lee, behind the scenes, among friends, far from the stage, was building himself. Clark spoke of the man who laughed, who played pranks, who liked to pressure his instructors just to watch them surpass limits they didn’t know they possessed.
And when Clark told me the last sentence he ever heard from H. U. Lee—“Protect the seniors”—I felt a knot in my chest. Not because I knew those men, but because, for the first time, I felt I knew the heart from which everything was born.
I am merely the narrator gathering the first light before it fades. And this must be told. Maybe my body will never again allow me to be a champion, to teach an unforgettable class. Maybe that phase is behind me. But I have my memory and my writing. Perhaps Lee is watching me from somewhere, saying: just keep going.
###################
Los hombres que estuvieron ahí
por Arnaldo Recchia
“Hello, sir”, dijo. Y en aquel saludo simple escuché cincuenta años de historia comprimidos en un suspiro.
Lo saludé con respeto, pero por dentro sentía algo que raras veces siento: el peso de estar frente a la historia mientras ella se ofrece, voluntaria, quizá por última vez. No como un relato oficial, sino como memoria viva, una memoria a punto de desvanecerse si no se recoge con cuidado.
Y en ese instante lo supe: diciembre de 1968 sería otro punto fijo de mi libro. El punto cero de una trayectoria que intentaba reconstruir y que aún estaba abierta en mi investigación.
Clark describió el lugar como quien regresa a la casa donde creció: paredes simples, el olor del tatami gastado, las órdenes firmes del Master Richard Reed resonando en la sala. Y luego, dos meses después, en febrero de 1969, llegó el examen que lo pondría cara a cara con el hombre que cambiaría su vida: Haeng Ung Lee.
Mientras narraba, la escena se dibujaba en mi mente: la mesa larga, los maestros coreanos alineados, Reed anunciando los exámenes, y al centro, casi inmóvil, el pequeño coreano de mirada filosa. Clark confesó que pensó que era demasiado pequeño para inspirar tanta reverencia.
— Junto a nosotros, los americanos, éramos gigantes frente a él — recuerda.
Cuando Clark me contó que lo habían promovido de cinturón blanco a marrón y que, pocos días después, H. U. Lee apareció personalmente en la escuela para explicar la decisión, sentí un vacío en el pecho. Era como ver una película antigua cuya única copia se deshace, y yo necesitaba salvar cada fotograma. Mi mente saltó de inmediato a mis notas sobre el antiguo sistema de Chung Do Kwan: cinturones blanco, marrón y negro, sin etapas intermedias. Así había aprendido Lee a comienzos de los años cincuenta, y así lo enseñaba de nuevo, al otro lado del mundo, casi veinte años después.
Clark siguió hablando, y yo casi olvidé respirar.
Me contó la historia de la lección sobre la venganza, aquella en la que, tras recibir una patada semicircular en la cabeza y responder con la impulsividad de un boxeador, escuchó al maestro decir:
Yo —periodista, educador, maestro de taekwondo, estudioso de las humanidades— percibía que en ese diálogo había más que una enseñanza marcial. Había una llave. Una manera de ver el mundo.
Y entonces llegamos al momento que más esperaba. La pregunta que llevaba conmigo desde antes de iniciar la entrevista.
— ¿Cómo nacieron las formas Songahm?
Clark sonrió como quien saluda a un viejo amigo.
Me habló de los cinco años de trabajo con el Master Allemeier, de las listas interminables de técnicas escritas en enormes pizarras, del perfeccionismo de H. U. Lee corrigiendo dos o tres detalles en cada forma, y del instante en que supieron —no por revelación divina, sino por el cansancio del cuerpo y el sudor acumulado— que estaban construyendo algo que cambiaría el destino no solo de la ATA, sino del taekwondo occidental.
Mientras hablaba, recordé las memorias que el Grand Master Mal Kun Lee compartió conmigo: el campamento de julio de 1983, los gongos sonando a las cinco de la mañana en la montaña, las velas encendidas, los maestros firmando el pergamino de la primera presentación formal de las formas Songahm. Y sentí el privilegio raro de tener dos fuentes, dos narraciones que encajaban como partes del mismo mapa.
La complejidad de esta investigación adquirió dimensiones literarias e históricas mucho mayores de lo que pude imaginar al comenzar.
Respiro hondo antes de escribir episodios que no aparecen en ningún manual. La mayoría de las cosas de este libro jamás fueron contadas con nexo causal. Estoy convirtiendo leyendas en hechos, idolatría en racionalidad. Dando luz a la historia y avanzando hacia la eternidad.
Recuerdo la historia de los hermanos Lee, los más graduados, Haeng Ung y Soon Ho, vendiendo un pescado podrido. Ya imaginaba algo así al entender el contexto histórico de las Coreas. Pero leerlo en palabras de Soon Ho era distinto. Era un recordatorio de que ningún imperio nace del lujo; nace del hambre, de la pérdida y del deseo de sobrevivir.
La vida, y la forma en que se nos impone, es el verdadero detonante de lo que seremos después. La familia —y, en especial, Haeng Ung— me lo demuestra a cada paso. Otra historia que conocí a través del Grand Master Mal Kun fue la del pantalón rojo que le regalaron. Un gesto rarísimo para la época. Primero porque, siendo el menor, siempre heredaba la ropa de sus hermanos. Segundo porque quien se lo dio fue Haeng Ung. Un gesto claro, casi extraño, de “me importas”, algo nuevo para el pequeño Mal Kun, de siete u ocho años. Años más tarde entendió que aquel pantalón era un símbolo. Tal vez el primer símbolo del desprendimiento cultural que daría forma al Songahm.
Esta investigación me lleva por un espectáculo de teletransporte. Un día estoy en Seúl, de pronto en Arkansas, un salto a Florida, y luego el camino me conduce a Paraguay.
Cezar Ozuna me contó —y lo documenté— la apuesta que hizo con Haeng Ung: la promesa de los doscientos alumnos. Y cómo todo sucedió de manera ligera, casi casual.
Y al final, Clark me confirmó el mismo modus operandi. Las personas hacían las cosas porque era para Lee; Lee las hacía porque tenían que hacerse. El Eternal Grand Master H. U. Lee, entre bastidores, entre amigos, lejos del escenario, se iba construyendo. Clark me habló del hombre que reía, que hacía bromas, que presionaba a sus instructores solo para verlos superar límites que jamás imaginaron tener.
Y cuando Clark habló de la última frase que escuchó de H. U. Lee —“Protejan a los seniors”— sentí un nudo en el pecho. No porque conociera a esos hombres, sino porque, por primera vez, sentía que conocía el corazón del que todo había nacido.
Soy apenas el narrador que recoge la primera luz antes de que se apague. Y esto debe ser contado. Quizá mi cuerpo nunca me permita volver a ser campeón, ni dar una clase emocionante otra vez. Es posible que esa etapa haya quedado atrás. Pero tengo mi memoria y mi escritura. Tal vez Lee me esté mirando desde algún lugar y diciendo: solo continúa.
